Relatório 48: o fim do mundo e uma boa notícia
Deixamos o Sistema Solar para trás, depois a Via-Láctea e avançamos até a nossa galáxia, à qual os terráqueos dão o pomposo nome de Pequena Nuvem de Magalhães, e nós, simplesmente, de Casa.
A distância até Tralfamador é de apenas 200 anos-luz, mas levamos quinze minutos para chegar até lá. É que dirigi devagar. Nem engatei a quarta marcha.
“Por que você veio tão lentamente, Kubno?”, perguntou-me a tenente.
“Para ficar mais alguns minutos ao seu lado, Velvinha.”
Ao ouvir aquilo, suas garras ficaram crispadas e ela disse entre dentes: “Pela última vez, não me chame de Velvinha.”
Enfiei os rabos entre as pernas e tratei de fechar as bocas.
Após deixar a Vork no espacionamento da Copula (COnfederação Planetária Unida de Lealdade Ambiental), fomos levados até a sala de reuniões do Conselho Máximo.
Logo estávamos diante da cadeira monumental do imperador Kingolus. Ela tinha mais de trinta metros de altura e tivemos que ficar olhando para cima (imagine como é ter torcicolo em trinta pescoços).
“Tenente Velva e cabo Kubno, depois de toda esta pesquisa chegou a hora de expor suas opiniões sobre o terceiro planeta do Sistema Solar”, ordenou o imperador, segurando um globo terrestre.
Então Velva começou a falar o óbvio: a Terra era um belo planeta, possuía uma natureza exuberante e mereceria ser preservada. O problema é que algo atrapalhava seu equilíbrio: uma de suas criaturas, o homem. Ele aniquilava a vegetação, empestava o ar com monóxido de carbono, brincava com elementos químicos, matava outros seres e arruinava ecossistemas apenas para ter conforto.
E pior: pensava que era superior à própria natureza.
O presidente Kingolus ouviu o discurso atentamente, até que, balançando as antenas que saíam de sua coroa, disse:
“Pelo que entendi, o planeta é bom, mas o homo sapiens, nem tanto. Ora, trata- se de um caso simples: basta acabar com a humanidade. Passemos ao procedimento de execução.”
Eu e Velva nos afastamos. Então um criado flutuou até o imperador levando uma almofada sobre a qual havia uma luva branca.
O presidente Kingolus a vestiu em uma de suas mãos, a que tinha treze dedos, e se preparou para apertar o botão. Foi quando gritei:
“Pare!”
“O quê?”, disse Kingolus. “Você ousa me interromper?”
Cruzei meus tentáculos atrás do corpo, abaixei minhas cabeças e sussurrei: “Perdão, presidente, mas o senhor está agindo como um homo sapiens.”
“O quê!?”, ele exclamou e perguntou.
“É isso mesmo”, completou a tenente Velva. “Se o senhor executar a humanidade estará sendo exatamente como um terráqueo autoritário e prepotente, colocando-se acima da própria natureza.”
“Não tinha pensado sob este ângulo…”, disse Kingolus meio sem jeito. “Eu só queria proteger o planeta…”
“Se os homens tiverem que ser destruídos, eles mesmos se encarregarão disso”, falei baixinho.
“E, por outro lado, há alguma esperança. Vimos bons exemplos de consciência e ação em nossa viagem, e, apesar de eles ainda serem poucos, acreditamos que uma mudança de rota possa acontecer”, emendou Velva.
O imperador pensou por algum tempo. Depois, desceu até nós e disse:
“Suas sábias palavras abriram meu olhos, cabo Kubno e tenente Velva, adiarei minha decisão.”
“Eba!”, dissemos eu e Velva ao mesmo tempo.
“Por outro lado, vocês quebraram o protocolo e me xingaram de autoritário, prepotente e, o que é pior, de homo sapiens. Por conta disso, terei que puni-los.”
“Glup”, fizemos eu e Velva ao mesmo tempo.
“Condeno os dois a uma reclusão de cem anos neste tal planeta Terra. E vocês vão ficar aqui”, disse ele girando o globo e colocando o tentáculo num ponto qualquer.
Tivemos sorte. O tentáculo imperial caiu bem em cima de uma ilhota deserta no Oceano Pacífico. E o primeiro diálogo que tive com a tenente em nossa paradisíaca prisão foi assim:
“Desculpe… Eu não devia ter quebrado o protocolo. Agora a senhora está presa aqui comigo.”
“Na verdade, você foi muito corajoso, Kubno. Poucos teriam se oposto a uma ordem do imperador.”
“Acha mesmo, tenente Velva?”
“Tenente Velva? Ora, pode me chamar de Velvinha.”
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Muito bom, só não diga que acabou?!
=D
Quando vai sair o relatório 49? Estou ansioso…
Parabéns!
Gostei do que li e as informações que aqui foram dadas tiveram ecos em minhas conversas… e toda história que acaba a gente quer mais….
Escreva mais um ou dois relatórios….
A toda a equipe do site meus parabéns…..
Não teremos mais história? Realmente acabou?
Abraço
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