Paulo Vaz por Torero
Hoje, o roteirista José Roberto Torero nos traz um registro de como foi a conversa com Paulo Vaz, nosso consultor para o documentário Consumismo, da série Somos 1 Só.
Por José Roberto Torero
Uma das conversas mais saborosas desta primeira fase do trabalho foi a com Paulo Vaz.
Como sua formação é em filosofia, já esperávamos uma conversa mais teórica e com poucos exemplos. Realmente não vieram muitos exemplos, mas a parte teórica não foi tão teórica assim.
Como Paulo é professor, conseguiu fazer um discurso cheio de imagens e metáforas que podem nos ser muito úteis na construção do roteiro. Uma tese é difícil de colocar em imagens. Mas, se ela é exemplificada e metaforizada (não sei se existe esta palavra), fica muito mais fácil de representá-la e entendê-la.
Ele começou falando sobre o tempo e de como se pensava o tempo, introduzindo a ideia de “habitar o tempo”.
Antigamente, segundo uma ótica protestante, o presente era um tempo de sacrifício e o futuro, um tempo de redenção. Havia um adiamento do gozo.
Mas, segundo Paulo, atualmente as coisas mudaram. Pode-se tudo no presente e o futuro é que castra.
Por exemplo, pode-se comer muito, mas no futuro terá que pagar por esta com o ganho de peso. Ou um sujeito pode fazer muito sexo, mas no futuro pode morrer de Aids.
Ele disse que o crediário, o pagamento parcelado, destrói a ótica do economizar para comprar. A dívida de antes é o crédito de hoje. Você pode ter agora e pagar depois. E, para exemplificar, Paulo cita o slogan de um cartão de crédito: “Visa, porque a vida é agora”.
Esta mudança da concepção de tempo também estaria na guerra de Bush Jr. Ele inventou a guerra preventiva, ou seja, o atacar antes de ser atacado.
E tal ideia é que teria provocado a grande crise do mercado imobiliário dos EUA.
Para Paulo, esta inversão de tempos está no cerne da sociedade de consumo, onde se inventa primeiro o produto e depois a necessidade.
Para ilustrar a atual fome de consumo, ele citou uma historinha curiosa. Curiosa e trágica. Nos EUA há um tal de Super Tuesday, um dia de grande liquidação. E num destes dias um dos guardas que abrem as portas das lojas caiu no chão e foi pisoteado até a morte pelas ávidas clientes.
Eis aí uma boa cena a ser encenada.
Ele também tocou na privatização do problema social. Por exemplo: mães jovens e alcoolismo são coisas que se tornaram problemas individuais, mas na verdade são questões sociais. E, para ele, não há solução sem a presença do estado.
No fim, Paulo propôs uma pergunta que toca no problema do consumo e do consumismo: O que o homem precisa para viver?
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